segunda-feira, 9 de novembro de 2009

THE WALL STREET JOURNAL – 29 de outubro de 2009

Hanoi e os Monges

Acabem com a perseguição de um mosteiro budista

 Por Thich Chan Phap Dung

Uma imensa perseguição a um grupo de monges e monjas budistas está acontecendo no Vietnã. Os alvos são os membros da comunidade de Bát Nhã, seguidores do mestre Zen e militante da paz Thich Nhat Hanh. Os protestos públicos a estes acontecimentos dentro do país e no exterior estão transformando a situação numa dor de cabeça para Hanói. Mas não precisa ser assim.

No dia 27 de setembro, uma multidão desempossou violentamente 379 monges e monjas do mosteiro deles na montanha central. Pedidos de ajuda à polícia de caráter urgente foram ignorados, de acordo com os relatos que recebemos dos monges e monjas e das testemunhas presentes no local. Cerca de 130 monges foram atacados, quatro foram acossados sexualmente, e os prédios do mosteiro, saqueados. Muitas dúzias de monges foram levadas à força em veículos; o restante, forçado a marchar numa chuva torrencial mais de 15 km até a cidadezinha mais próxima. Mais de 200 monjas, barricadas em suas residências e ameaçadas pela multidão, fugiram na manhã seguinte.

Centenas de monges e monjas se reagruparam no dia seguinte no pequeno templo Phuoc Hue na cidadezinha de Bao Loc sob a proteção do abade Thich Thai Thuan. Mas os policiais dos vilarejos destes monásticos tentaram dispersar a comunidade forçando monges e monjas a voltarem para os seus lares através de intimidação, ameaças e repreensões públicas. Vinte e sete monges e monjas foram forçados a voltar para casa e muitos policiais ainda perambulam pela área.

O governo negou qualquer envolvimento dizendo que este episódio é apenas uma disputa entre duas facções budistas; mas a divulgação de um documento governamental contendo informações secretas, datado do ano passado, do Comitê de Assuntos Religiosos, menciona que a comunidade de Bát Nhã esteve organizando atividades “sem permissão” e expressou opinião sobre “questões políticas”. O documento sugere que o governo poderia eventualmente “forçar aqueles que criaram problemas a voltarem para suas cidades de origem”, e é isto que o governo está tentando fazer agora. Por “questões políticas” poder-se-ia entender os comentários feitos pelo Venerável Nhat Hanh sobre a política religiosa de Hanói. Hanói também pode estar temendo a popularidade de Nhat Hanh entre os intelectuais e jovens do Vietnã. Desde a sua fundação em 2005, Bát Nhã cresceu de uma pequena comunidade com apenas uns poucos monges da igreja budista sancionada pelo estado em um mosteiro alojando centenas de seguidores do Venerável Nhat Hanh. Os jovens monges e monjas, na faixa etária dos 15 aos 25, vieram de todos os setores da sociedade vietnamita. Todo mês, centenas e ocasionalmente milhares de vietnamitas revoavam para Bát Nhã para participarem de eventos especiais e retiros de meditação.

O retorno do Venerável Nhat Hanh depois de 39 anos de exílio foi um dos vários passos importantes que o Vietnã deu em direção à liberdade religiosa e uma sociedade mais aberta. Isto ajudou a pavimentar o caminho para a remoção do Vietnã da lista dos países com preocupação específica do Departamento do Estado dos EEUU devido violação de liberdade religiosa, e para a adesão do Vietnã à Organização do Comércio Mundial em 2007. A perseguição à Bát Nhã põe em questão estas realizações anteriores.

Neste ínterim, a repressão está inspirando os cidadãos vietnamitas comuns a protestarem. Num país onde opinar criticamente sobre o governo pode significar prisão, mais de 400 intelectuais, cientistas, membros do Partido Comunista e cidadãos comuns, dos quais 200 estão dentro do Vietnã, assinaram uma carta aberta, escrita pela escritora Hoang Hung datada 5 de outubro, dizendo que os acontecimentos em Bát Nhã e o prolongado assédio aos monásticos são uma “situação urgente que ameaça o país tanto internamente como internacionalmente”. Eles solicitam que o governo aja no sentido de investigar os ataques e assegurar o bem estar destes jovens monges e monjas.

O governo do Vietnã agora tem que responder. Eles irão dispersar uma pacífica organização budista, ou se mover no sentido de proteger integralmente a liberdade religiosa como requer o pacto e tratados internacionais dos quais o Vietnã é partícipe como, por exemplo, a Convenção Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, e como exigem os cidadãos vietnamitas? O Vietnã está atualmente servindo como presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da Associação das Nações Unidas do Sudeste Asiático em 2010. Não há momento melhor para mostrar ao mundo sua liderança nestas importantes questões sobre direitos humanos.

Os monges e monjas ainda desejam voltar à sua morada do mosteiro Bát Nhã. Se isto não for possível, o governo, através de sua estabelecida Igreja Budista, poderia pelo menos reafirmar os direitos legais dos monges e monjas praticarem juntos enquanto uma comunidade religiosa em outro local. Estes jovens monges e monjas não querem outra coisa a não ser servir ao país deles e à humanidade, e são ótimos exemplos da verdadeira beleza e espírito determinado do povo vietnamita.

Nós clamamos à Hanói que aja agora para salvaguardar o bem estar dos monásticos de Bát Nhã e proporcionar direitos legais para que todos os budistas no Vietnã cultuem sem restrições. Tais ações podem mostrar que o progresso econômico pode ir de mãos dadas com o crescimento espiritual e pode somente aumentar a reputação do Vietnã mundialmente, e que o temor e suspeição que Hanói tem para com estes jovens monásticos são infundadas.

Irmão Dung é abade do Mosteiro Deer Park, Escondido, Califórnia, representando os centros de práticas de Thich Nhat Hanh nos Estados Unidos.