quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O som mágico da cítara


Continuação da carta de Thich Nhat Nanh aos seus discípulos de Bát Nhã



Escrita em vietnamita e traduzida para o inglês
Postada sábado 17 de outubro de 2009 no http://helpbatnha.org


Thây está continuando a escrever uma carta para vocês do seu eremitério Thach Lang, no Mosteiro Blue Cliff. Hoje são 13 de outubro de 2009. Thây acabou de chegar de Nova Iorque. Em Nova Iorque, Thây e a Sanga guiaram dois dias de prática para mais de 2000 praticantes americanos no nordeste dos EEUU. Isto aconteceu no Teatro Beacon na Broadway Street; e o tópico foi “Construindo uma sociedade pacífica e compassiva” nestes dois dias de prática. Às 12h30m, do dia 10 de outubro de 2009, mais de duas mil pessoas fizeram meditação caminhando na Broadway para enviar energia aos “filhos e filhas de Thây em Bát Nhã, que estão residindo no templo Phuoc Hue.

Thây relembra que durante sua estada em Phuoc Hue, ele morou com dois irmãos monásticos: Thây Tam Cat e Thây Duc Tram, que tinham mais ou menos a mesma idade que Thây. Nos anos 1940, nós três tínhamos estudado juntos no Instituto Budista Bao Quoc em Hue. O nome laico de Thây Tam Cat era Huyen Ton Vien Lau. Thây Duc Tram era um dos discípulos mais velhos do Mais Venerável Tri Thu do Templo Paramita. Nós três vivíamos em Phuoc Hue e dirigíamos as práticas dos amigos leigos. Todo dia ao anoitecer, nós saíamos para um grande campo atrás do templo para jogar futebol. Naquele tempo, ninguém do círculo monástico sabia jogar futebol. O Mais Venerável Thien Minh (Thây Tri Nghiem) era jovem naquela época, com uns 25 anos de idade e foi o primeiro monge a jogar futebol junto com os noviços no Templo Linh Son em Da Lat. Depois de alguns anos, outros monges como Thây Nhu Tram, Tri Khong, Long Nguyet e vários outros alunos monásticos do Instituto Budista Na Quang também vieram para Phuoc Hue para estudar e praticar com Thây. No Templo Phuoc Hue, Thây também organizou aulas para crianças do primeiro e segundo graus do vilarejo. O seu irmão mais velho, Nhat Tri, foi ordenado neste templo. E naquele mesmo dia, outra criança teve sua cabeça raspada e recebeu os três preceitos (equivalente ao primeiro, segundo e quarto dos Cinco Treinamentos da Consciência Plena). Ele só recebeu os três preceitos porque era muito jovem – tinha apenas seis ou sete anos de idade. Este garotinho depois se tornou o Mais Venerável Nguyen Hanh, que hoje é o Abade do Templo Viet Nam em Houston, que é hoje um dos maiores templos dos Estados Unidos.

A caligrafia do irmão mais velho de Nhat Tri era exatamente como a de Thây; e semelhante a da sua irmã mais velha Luong Nghiem, quando ela escreve caligraficamente - a escrita dela também se assemelha muito a de Thây. O seu irmão Nhat Tri foi um dos pioneiros do movimento do Serviço Social dos Jovens. Ele ajudou a construir os dois primeiros Vilarejos de Amor deste movimento – os vilarejos Cau Kinh e Thao Dien. Foi o Mais Venerável Chau Duc quem trouxe o seu irmão mais velho de Quang Nam para entregá-lo aos cuidados de Thây. Os alunos daquelas escolas de primeiro e segundo graus do distrito de Bao Loc estão hoje na casa dos sessenta e setenta anos de idade; a maioria já são avós e avôs. Sorriam meus filhos e filhas! Vocês ainda são muito jovens. Então aprendam a viver profundamente no momento presente e sorriam; um sorriso sincero e cheio de frescor; e olhem com olhos gentis e brilhantes. Aprendam a amar e a perdoar exatamente agora no momento presente, e a gerar momentos de felicidade com a prática da consciência plena, para que vocês não se tornem os velhos veneráveis tão rapidamente. O monge bisavó de vocês, o patriarca Thanh Quy Chan That, foi capaz de manter a inocência e mente pura dele até os seus 80 anos, porque foi capaz de manter inteira a Mente de Iniciante dele. O seu tio monge Chi Mau relembra que nos últimos momentos de vida do monge bisavô, ele se deitou na postura do leão com as duas mãos unidas em um lótus. Nós professores e discípulos queremos praticar como o monge bisavô, mantendo nossa aspiração e Mente de Iniciante intacta por toda vida. A energia da Mente de Iniciante trás muita felicidade para nós e para as pessoas que amamos. A Mente de Iniciante é o nutriente mais valioso para um praticante espiritual.

Nesta turnê norte americano, Thây, enquanto ensinava sobre os Quatro Nutrientes, abordou primeiramente a volição, como um tipo de alimento, depois a consciência, em seguida as impressões sensoriais, e por último os alimentos comestíveis. A abordagem deste ensinamento foi usada por Thây primeiro no retiro monástico do Mosteiro Deer Park. Thây espera que todos vocês em todos os lugares tenham chance de ouvir estas três palestras de Darma deste retiro monástico. A Mente de Iniciante é também chamada Bodhicitta ou Mente de Amor, que é o nutriente essencial para todos nós. Ela pertence à primeira fonte de nutriente – volição. Geralmente na sociedade, as pessoas se referem a ela como um ideal, a aspiração, ou desejo mais profundo na vida de uma pessoa. Com este ideal de amor em mente, instantaneamente temos uma grande fonte de energia que nos ajuda a progredir, superando todos os obstáculos, realizando nossos desejos mais profundos e atingindo a grande felicidade. Uma pessoa sem um ideal ou uma aspiração é alguém sem uma fonte de vida. Para praticantes monásticos, aquele ideal é transformar nosso próprio sofrimento e ajudar também a transformação dos outros. Nós estamos juntos por causa deste ideal e não porque buscamos fama, poder ou prazeres sensoriais. Como sabemos que o desejo por fama, poder e prazeres sensoriais podem trazer muito perigo e sofrimento ao corpo e à mente, nós nos determinamos a nos libertar destes desejos e a encontrar um desejo mais benéfico – e este desejo é a nossa Mente de Amor. A Mente de Amor é muito forte quando ela nos habita pela primeira vez. Ela nos ajuda a romper e soltar todas as nossas dependências muito facilmente. Durante a vida inteira enquanto praticantes, devemos saber como nutrir esta mente e não permitir que ela se desgaste.

Por isso, devemos ter uma segunda fonte de nutrição: a consciência – que é a consciência coletiva da Sanga. A Sanga é uma comunidade de pessoas com a mesma aspiração. Todos numa Sanga têm a energia da Mente de Amor; todos querem praticar para se transformarem e contribuir na carreira de servir a humanidade. Enquanto vive harmoniosamente juntos de acordo com as Seis Harmonias, a Sanga é capaz de gerar a energia coletiva da consciência plena, concentração e insight. É esta energia que ajuda a nutrir a Mente de Amor em cada membro da Sanga. Se vocês, meus discípulos amam a Sanga, não querem se separar da Sanga, e quer encontrar meios de construir uma Sanga, é porque vocês têm a necessidade de serem nutridos por esta energia coletiva. Por isso, quando eles tentam dispersar a Sanga, vocês têm se esforçado ao máximo para proteger a Sanga e não permitir que a Sanga seja dissolvida.

Na sociedade, os revolucionários também têm suas Mentes de Amor. Eles têm os ideais deles, a aspiração de salvarem sua terra natal, o povo deles; de expulsar os invasores e lutar pela independência do país deles. A volição dos revolucionários não é nem um pouco menos impressionante do que a Mente de Amor dos monásticos. E estes revolucionários também precisam de uma Sanga para nutrir a aspiração deles, e esta Sanga é a organização revolucionária deles. Se dentro de uma Sanga nós temos amor e irmandade, na organização revolucionária existe amor e camaradagem. Este amor de camaradagem é a fonte de alimento, de motivação que consegue nutrir a força de vontade e diligência dos revolucionários.

Construir uma organização revolucionária requer uma ética revolucionária: integridade e honestidade são duas virtudes básicas de uma organização revolucionária; exatamente como nos preceitos monásticos, onde a concentração e o discernimento constituem a verdadeira essência de uma sanga. Se não praticarmos os preceitos e maneiras conscientes e não praticarmos a consciência plena, não podemos nutrir a energia da sanga. Se os revolucionários não praticam integridade e honestidade, eles não conseguem nutrir a organização revolucionária; e o fogo da revolução se extinguirá. Esta regra também se aplica à sanga. Sem a prática de viver harmoniosamente juntos com a energia da consciência plena, concentração e discernimento, a sanga também morrerá. Externamente, pode parecer como uma comunidade de prática, mas internamente, só está composta de indivíduos que estão buscando por confortos materiais e emocionais para satisfazer uma vida sem significado.

A Igreja Budista é a sanga de todas as sangas. Se a Igreja Budista está constituída de sangas com forças-vitais e com idéias nascidos da Mente de Amor, a energia da Igreja Budista será poderosa e a Igreja Budista se tornará uma fonte de nutrição tanto para os monásticos quanto para os praticantes leigos. Caso contrário, a Igreja Budista apenas será um lugar aonde as pessoas vêm buscar lucros e status. Se o fogo sagrado da revolução se extingue, os estabelecimentos políticos deixam de ter força-vital, e aquelas pessoas que querem se unir deixa de ser àquelas repletas do ideal e aspiração de salvar o país e o seu povo; e passa a ser pessoas meramente buscando posições e benefícios.

Quando os padres católicos de “Dòng Chúa Cúu Thê” falaram abertamente para proteger a sanga de Bát Nhã, Thây viu que esta tradição de prática ainda é capaz de manter a vida da comunidade deles, e por isso tiveram força heróica suficiente para falar abertamente daquela maneira. Quando o Conselho Administrativo da Igreja Budista da província de Lam Dong falou abertamente para oferecer refúgio e proteger a Sanga de Bát Nhã, Thây viu que o Conselho Administrativo ainda é capaz de manter viva a sanga deles, e por isso tiveram coragem e amor suficientes para fazer isto. Se estes Veneráveis falaram abertamente para abrigar e proteger vocês, é porque a sanga de Bát Nhã ainda é uma sanga nutrida pela Mente de Amor; com ninguém correndo atrás de fama, pode e prazeres sensuais; com todos querendo apenas praticar e servir.

Em Abril deste ano, no Instituto Europeu de Budismo Aplicado na Alemanha, Thây deu uma rápida palestra sobre a sanga e o estabelecimento; que é importante ter primeiro a presença de uma linda sanga, o estabelecimento é secundário. Somente quando nós temos um pêssego verdadeiramente bonito, é que nós procuramos um prato ou bandeja para colocá-lo. Sem o pêssego, prá que serviriam o prato ou a bandeja? Se não tivermos esta terra Bát Nhã, haverá outra Bát Nhã noutro lugar. O que é mais importante é construir uma linda sanga.

A primeira coisa que Buda fez depois de ter alcançado a iluminação sob a árvore Bodhi foi procurar seus amigos praticantes para construir uma sanga. Construir sanga é a carreira de Budas, e também é a carreira de qualquer praticante espiritual. Este também é o caso dos membros da revolução, que querem construir um partido revolucionário. Sem a sanga, a carreira de um (a) Buda não pode se realizar. Sem a organização revolucionária, a carreira do revolucionário também não pode ser alcançada. Nos últimos sessenta anos, o professor de vocês nunca negligenciou a prática de construir sanga. Thây tem ajudado na construção de milhares de sangas em várias partes do mundo, e cada sanga se tornou um lugar de refúgio para muitos praticantes daquele local. Dr. Martin Luther King foi alguém que Thây se sentia muito próximo, e ele falava sobre a sanga como “queridas comunidades”, querendo dizer “sanga querida”. A sanga de Bát Nha também é uma dessas “sangas amadas”.

Quando Thây ainda era um jovem monge durante a revolução contra a França, Thây tinha encontrado meios de proteger os revolucionários quando eles estavam em perigo, procurando refúgio em templos. Esta era uma das coisas mais perigosas a serem feitas. Os soldados franceses poderiam atirar em nós porque ousávamos abrigar estes revolucionários. Thây Tri Thuyen, Thây Tam Thuong e muitos outros jovens monásticos da idade de Thây foram baleados por que fizeram este tipo de coisas. Milhares de revolucionários iam se esconder nos templos, e os monges e monjas sempre encontrava meios de abrigá-los e protegê-los. Todos faziam isto porque todos nós amávamos nosso país e a partir deste amor, queríamos proteger os soldados. Na última carta endereçada ao Presidente do Vietnã, datada 30 de setembro de 2009, Thây lembrou-lhe desta estória. Thây tem certeza que quando o Presidente ainda era um revolucionário juntamente com muitos outros soldados que hoje são veteranos da revolução, ele e os outros também atravessaram muitos momentos perigosos na vida; e eles não deveriam nunca se esquecer do apoio cerrado – assim como a água está para o peixe - entre o povo e os soldados daquela época.

Naquela mesma carta, dentro do mesmo espírito, Thây também escreveu que os policiais e àqueles que deram ordens para usar de todos os meios para despejá-los de Bát Nhã, “eles certamente não podem ser filhos da revolução”. As ações deles são ingratas, imorais e traiçoeiras; e não se coadunam com a verdadeira tradição revolucionária. Thây também requereu ao Presidente que interviesse e parasse estas ações que contradizem os princípios da revolução e são contra as virtudes e valores tradicionais da nossa terra-natal. Por que estes policiais se comportaram daquele jeito, usando meios tão violentos? Por que eles não conseguem continuar a integridade e honestidade da revolução? Porque eles não são filhos da revolução? Por que a corrupção e abuso de poder permeiam em todo lugar? Só há uma única resposta certa: o fogo da revolução se apagou. As virtudes da revolução não mais existem. A fonte de inspiração, que é o ideal da revolução, não mais existe.

Quando não conseguimos manter nossa Mente de Amor – nossa Bodhicitta – nós deixamos de ser “companheiro do caminho” uns para os outros ou “amigos de um caminho comum”; mesmo que possamos nos referir a nós mesmos como budistas ou discípulos de Buda. Quando as aspirações dos revolucionários deixam de existir, quando somos corroídos pela corrupção e abuso de poder, deixamos de ser “camaradas” uns dos outros. Quando temos nossas aspirações, nossa Mente de Amor, nossa irmandade, não precisamos mais procurar pela felicidade na direção do dinheiro, fama, poder e prazeres sensuais. Juntos, vivemos uma vida simples e mais saudável. Thây tem se sentado em meditação com vocês, comido em consciência plena com vocês, respirado com vocês e organizado retiros com vocês. Thây tem encontrado muita felicidade nestes momentos de vida comunitária. Os lutadores da revolução também eram assim. Eles viviam alegremente juntos porque eles partilhavam um ideal comum e eles eram capazes de abrir mão daquilo que traria dependência e restrições. Eles lutavam juntos lado a lado, tolerando juntos a tempestade e o vento, porque eles tinham a camaradagem e se mantinham aquecidos pelo fogo sagrado da revolução.

Falar deste jeito não significa dizer que hoje não possamos reacender o fogo da Mente de Amor que pode ter se apagado dentro de nós. Não significa que não podemos reacender o fogo sagrado da revolução que se extinguiu. Quando vocês entraram na Sanga, o fogo de sua Mente de Amor estava flamejando. Por isso muitos jovens monásticos, depois de terem lido o livro “Falando para os jovens monges e monjas” e terem feito contato com a Sanga, foram capazes de reacender suas Mentes de Amor. Por conseguinte, começamos a morar juntos genuinamente e alegremente porque o fogo da aspiração estava aceso brilhantemente dentro de nós. E assim a cada dia que passava, multidão de jovens chegava. Este influxo criou medo no coração das pessoas. Estas pessoas enviaram pessoas delas para se infiltrarem em nossas comunidades em Plum Village, Deer Park, Tu Hieu, Bát Nhã e em todo lugar; para ver o que estávamos realmente fazendo, e investigar como poderíamos atrair tantas pessoas jovens tão rapidamente.

Temos algum segredo? Não temos segredo algum! Se há tal segredo, este deve ser porque nós sabemos como viver verdadeiramente um com o outro em espírito de irmandade. Sabemos como abrir mão das buscas que podem nos trazer apego e dependência. Temos uma aspiração profunda de praticar, para ajudar os outros e servir todos os seres vivos. Vivemos cada momento com esta aspiração. Por isso, quando os jovens interagem conosco, os corações deles também se acendem com esta aspiração. Isto certamente pode ser realizado dentro de uma comunidade como também dentro de uma organização revolucionária. Somente se as pessoas viverem verdadeiramente umas com as outras, somente se puderem reacender o fogo do ideal revolucionário, somente se as pessoas tiverem a energia derivada de suas aspirações, a corrupção e o abuso de poder serão vencido. Então àqueles que se unem ao partido não mais serão exploradores e oportunistas.

Se àqueles que vêm nos investigar pudesse ver esta verdade, ambos os lados se beneficiariam. Poderíamos praticar em paz, e eles, aprenderem formas de reavivar a confiança e ideais deles. Infelizmente, estas pessoas não conseguem compreender tal verdade e, por conseguinte, suspeitam; e desta suspeição nasce o medo. Por causa deste medo elas usam meios antiéticos de dissolver uma comunidade de jovens que eles sentiram que não poderiam controlar. A verdade é – porque seria necessário controlar o cultivo de virtudes?

Uma vez, viveu um rei muito curioso para descobrir como uma cítara poderia produzir sons tão mágicos. Ele deu ordens de partir a cítara em pedaços para descobrir o seu segredo. Ela foi dividida em centena de partes, mas ele não conseguia encontrar a raiz do som mágico que ele tinha ouvido. Para saber o seu segredo, a pessoa teria que se sentar quietamente e observar cuidadosamente a cítara e a maneira como ela é tocada, não é a despedaçando. A Sanga também é como uma cítara. Participando dela e a observando cuidadosamente, a pessoa compreenderá o milagre da Sanga. Por que a pessoa teria que dividir a sanga em muitos pedaços enviando cada pessoa para casa? Ao fazer isto, a pessoa perde a oportunidade de aprender. Os veteranos da revolução e todos nós mantemos um pouco do fogo da revolução dentro de nossos corações, por causa da verdade exposta a partir da crise em Bát Nhã, todos nós temos a chance de olhar profundamente para reacender a chama maravilhosa que sempre esteve dentro de nós.

(Esta carta ainda continua. Depois Thây enviará mais pra vocês)

Viva lindamente cada dia!

Thây

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Caminhada pela paz em Paris



No domingo, 11 de outubro de 2009, vários monges e monjas de Plum Village e praticantes laicos da França, Alemanha, etc. organizaram uma meditação caminhando da sede da UNESCO até a Praça dos Direitos Humanos, Trocadero, Paris – na frente da Torre Eiffel para clamar por ajuda em apoio aos monges e monjas em Bao Loc, Vietnã, que estão enfrentando muitas dificuldades.


A meditação caminhando começou às 14h com a Irmã francesa Giác Nghiêm partilhando sobre a prática da meditação andando. Tinham mais de 500 pessoas participando do evento, cada uma delas segurava uma flor e tinha vindo andando pacificamente desde sede da UNESCO, passando por alguns parques e ruas principais na frente da Torre Eiffel, terminando na Praça dos Direitos Humanos, Trocadero. Depois disso, cada participante colocou no chão da Praça uma flor representando um monástico que está enfrentando dificuldades em Bao Loc. A meditação caminhando foi encerrada com uma sessão de meditação silenciosa e evocação do nome de Avalokiteshvara.

[Matéria postada originalmente em inglês no site de Plum Village]

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A voz dos seus filhos

Carta dos bebês-monges de Bát-Nhã aos policiais. Originalmente escrita em vietnamita traduzida para o inglês. Postada no dia 17 de outubro de 2009 no http://helpbatnha.org Prezados tios policiais, estamos escrevendo esta carta enquanto os nossos corações estão, temporariamente, de volta à paz. Nós amamos muito vocês. Para oferecer a paz e um sono tranqüilo às pessoas, vocês têm que trabalhar duro dia e noite combatendo os criminosos, às vezes se esquecendo de vocês mesmos em nome do povo. Nós somos apenas monges “bebês” com muitas aspirações e questões. Estamos escrevendo esta carta para partilhar nossos sentimentos com vocês, e lhes pedimos respeitosamente que nos escutem, para que possam nos compreender melhor. Hoje à noite o céu está mais limpo depois do furacão Número 9. Deitados à beira da janela, estamos dando as boas vindas ao leve luar em meados do outono. A brisa refrescante está nos levando de volta à Bát Nhã, nossa querida moradia. As memórias estão jorrando em nossas mentes, especialmente as de vocês, nossos tios policiais. Estas memórias nos assustam, mas também fazem com que sintamos muito amor por vocês. Lembramos o dia que vocês vieram ao nosso dormitório para fiscalizar nossa condição residencial. Quando vocês nos pediram nossas carteiras de identidades, nós lhes respondemos fazendo todos os tipos de perguntas afiadas. Nós nos sentimos desconfortáveis imediatamente, logo que vocês nos pediram nossas carteiras de identidades. Isto aconteceu porque sabíamos que alguns dos nossos irmãos mais velhos tinham todo dia que informar seu quartel-general sobre sessões de trabalho, uma vez que as identidades deles tinham sido confiscadas. Nós soubemos que os nossos irmãos tiveram que se submeter a estas sessões de perguntas e respostas durante a hora do almoço sem se alimentarem. Puxa vida! Crianças como nós provavelmente não seríamos capazes de agüentar uma fome dessas. Nós achamos que os adultos também não gostariam de ser questionados por crianças assim tão inesperadamente. Em nossos corações, nós desejávamos que nada disso tivesse acontecido. Um tio policial tinha repreendido um dos nossos irmãos mais velhos dizendo: “Como estas crianças podem falar com a gente deste jeito? Elas são da idade de nossos filhos”. Maravilhoso! Este comentário realmente nos fez sentir tão feliz, porque desde então, nós éramos tratados como os traidores do templo e cegos seguidores de propaganda. Vocês não nos achariam demasiadamente jovens para estes tipos de rótulos? Não esperávamos que vocês pudessem ser tão bondosos a ponto de nos considerarem como seus filhos. Mas nós compreendemos que vocês não puderam deixar de amar a nossa imagem de crianças inocentes cheias de vida em vestes monásticas marrons e simples. Esta imagem é completamente diferente da imagem atual dos adolescentes da sociedade lá fora. Diferentemente de muitos outros jovens, nós somos tão sortudos de não estarmos em um ambiente cheio de pressão do nosso grupo. Nós escolhemos por nós mesmos o caminho da liberdade e da felicidade, cultivando uma vida simples – uma vida com poucos prazeres materialistas e uma mente que não está apegada a um materialismo excessivo. Este caminho de prática torna fácil para nós aceitarmos as situações e dificuldades que os outros podem achar difícil de aceitar. Normalmente, as pessoas desenvolvem ódio e vingança para com àqueles que as fazem sofrer, mas devido a nossa prática de consciência plena, nós reagimos de forma diferente. Queridos tios, vocês sabiam que às vezes nos fizeram sofrer e perder um bocado de fé na vida? Nossos corações ainda estão demasiadamente jovens para aceitar estas ações que são assustadoras e contrárias ao que aprendemos na escola. Todos os valores culturais e morais – de cidadania, de vizinhança e de amor pelo nosso país – estiveram sendo plantados profundamente em nossos corações. Infelizmente, por termos sido sujeitos recentemente aos contraditórios eventos, estamos agora muito perdidos. Desenvolvemos tanta desconfiança e temos tantas questões sem respostas. Que respostas existiriam que nos ajudasse a fortalecer e manter nossa fé na vida? Quando os nossos irmãos foram surrados e arrastados, tentávamos de todo jeito estar presente um para o outro, e ao mesmo tempo, transformar nossas emoções violentas para não dificultarmos a situação ainda mais. Aceitamos o espancamento brutal sem reagir violentamente para manter a linda bondade amorosa que Buda nos ensinou. Vimos que vocês também testemunharam este assalto. Sabemos que vocês não estavam felizes em ver crianças aterrorizadas chorando e implorando a estes agressores a não levar embora os nossos irmãos mais velhos. Nós segurávamos com força em nossos irmãos apesar da surra que recebíamos. Alguns de nós perdemos a consciência. Sofrimentos inarráveis estavam em tamanha violência! A imagem mais comovente foi aquela dos nossos irmãos mais velhos se jogando debaixo do taxi para impedir que os irmãos deles fossem levados embora. Muitas outras imagens de partir o coração foram testemunhadas naquele dia. Irmãos tiveram suas vestes rasgadas, ao som de choros e gritos – imagens possíveis de se imaginar somente em tempos de guerra. Estávamos pasmos de testemunhar alguns de vocês, tios, usando forças contra nós, enquanto tentávamos impedir sua passagem e manter nossos irmãos. Tivemos que agir daquele jeito porque estávamos com medo e angustiados diante da violência sendo cometida. Em tal estado de agitação, não sabíamos como agir adequadamente para descobrir uma saída. Nós esperamos por algum tempo para que vocês viessem nos socorrer. E finalmente vocês vieram somente para levar nossos irmãos à força. Não conseguíamos deixar de nos sentir chocados e perdidos. Inspirados por nossa aspiração partilhada e compromisso profundo de irmandade para com nossos irmãos mais velhos, tivemos que arriscar nossas vidas para salvá-los. Vocês ainda conseguem se lembrar da nossa imagem tentando impedir vocês de levarem nossos irmãos mais velhos Pháp Hoi e Pháp Sy? Nós insistimos de acompanharmos estes irmãos, mas vocês não nos permitiam. Alguns de nós que tentavam segurar neles eram espancados. Talvez durante o violento pandemônio, vocês não estivessem cientes de que aqueles que vocês estavam espancando tinham 16-17 anos, e possivelmente eram da idade dos seus filhos. Que confrontação dolorosa! Naquele momento doloroso, nós podíamos somente olhar, impotentes. Sendo jovens e também praticando a não-violência, como poderíamos abraçar tamanhas emoções tempestuosas? Chorávamos, e por trás das lágrimas, nossos olhos seguiam os veículos levando nossos irmãos embora; desaparecendo gradualmente, deixando para trás uma tarde cheia de tristeza. Naquele exato momento, mais uma vez, surgiu em nossas mentes o lembrete diário de nossos irmãos mais velhos: “Não fiquem com raiva daqueles que nos fazem sofrer, porque eles tiveram as suas próprias dificuldades e sofrimentos – mesmo com os tios policiais. Às vezes eles não agem bondosamente, mas não devemos pensar negativamente deles. Eles também têm famílias, esposas, filhos, assim eles deveriam sabem quais são os comportamentos apropriados, mas por causa dos seus próprios meios de vida, eles têm que agir de determinadas maneiras”. Nós ficamos ouvindo esta mensagem claramente em nosso coração. Talvez porque estivemos vivendo e praticando num ambiente com amor e compreensão, naquele momento, nós não sentimos qualquer raiva ou amargor com relação a vocês ou aos outros que estavam nos causando sofrimento. Desde então, estivemos nos questionando se nossa fé na vida e nosso amor pelo nosso país e seu povo foram abalados pelo sofrimento numa idade tão tenra. Por favor, descansem assegurados de que nós não fomos afetados desta maneira; e enfrentar estas dificuldades e misérias é um bom treino para nossas mentes. Nós ainda amamos nosso país e nossos companheiros vietnamitas com todos os seus valores maravilhosos. Queridos tios, esta carta já está longa, e antes de terminá-la, queremos lhes dizer do fundo dos nossos corações que nós não estamos com raiva de vocês. Nós ainda lhes respeitamos como respeitamos nossos pais e irmãos mais velhos. Quando vocês tiverem uma pausa durante o seu tenso e ocupado dia de trabalho, por favor, apareça para uma visita. Nós tomaremos um chá juntos. Cantaremos para vocês e lhes contaremos estarias divertidas de nossas vidas – estórias infantis de inocência e travessuras. A vida precisa muito dos sorrisos das crianças; não acham? Além da infelicidade, raiva, acusações e desconfiança, existem amor e formosura, como o luar de hoje à noite. Vocês sempre serão aqueles a quem apreciamos e tomamos refúgio. Sinceramente,
Seus “bebês-monges” brincalhões.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os EEUU urgem o Vietnã a honrarem os seus compromissos internacionais para com os direitos humanos

Enviado americano da Embaixada dos Estados Unidos em Hanói visita o Templo Phuoc Hue em 10 de outubro de 2009
.."a violenta expulsão dos monges e monjas do mosteiro Bát Nhã, província de Lam Dong, e o descaso do governo em protegê-los dos assaltos, contradizem os próprios compromissos do Vietnã de aceitar os padrões internacionais e as regras da lei dos direitos humanos", afirmou a Embaixada dos Estados Unidos em Hanoi, Vietnã.
Os EEUU "se incomodam" com o aprisionamento de militantes vietnamitas A Embaixada dos Estados Unidos disse na quarta-feira que estava "profundamente incomodada" com as condenações de nove vietnamitas na semana passada a despeito dos compromissos internacionais do Vietnã pela defesa dos direitos humanos.
Em inquéritos judiciais separados, os nove foram aprisionados com até seis anos sob o Artigo 88 do Código Penal, que os militantes de direita dizem criminalizar os dissidentes pacíficos.
Muitos dos acusados foram condenados devido às faixas que eles exibiram denunciando o Partido Comunista governante e bradando por democracia.
A Embaixada dos EEUU afirmou que os nove foram sentenciados "por empreenderem atividades pacíficas de apoio à democracia, direitos humanos e pluralismo político
"Os ativistas estavam simplesmente expressando suas opiniões pacificamente sem apresentar qualquer ameaça a segurança nacional do Vietnã".
A Embaixada afirmou também que estava preocupada com o caso da escritora Tran Khai Thanh Thuy, "que foi espancada e presa depois de ter expressado publicamente seu apoio aos nove militantes.
"Estas ações, juntamente com a violenta expulsão dos monges e monjas do mosteiro Bát Nhã na província de Lam Dong e o descaso do governo em protegê-los dos assaltos, contradizem os próprios compromissos do Vietnã de aceitar os padrões internacionais e as regras da lei dos direitos humanos", afirma a Embaixada.
Os monges e monjas de Bát Nhã são seguidores de Thich Nhat Hanh, um dos monges budistas mais influentes, residente na França, militante da paz e amigo íntimo do ex-líder pelos direitos humanos Martin Luther King.
No final do mês passado, os seguidores de TNH disseram que eles tinham fugido de Bát Nhã para outro Templo depois de sofrerem ameaças de pessoas não identificadas, armadas com martelos e bastões.
A Embaixada urge o Vietnã que "honre os seus compromissos para com os direitos humanos internacionais" e soltar imediatamente e incondicionalmente os prisioneiros que estão detidos por terem expressado suas opiniões de forma pacífica.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O corpo de diamante

Carta de Thây aos irmãos e irmãs monásticos do mosteiro Bát Nhã


Blue Cliff, 7 de outubro, 2009

Aos meus filhos e filhas de Bat Nha,

Escrevi “meus filhos e filhas de Bát Nhã” e não “meus filhos e filhas em Bát Nhã” como antes, porque mesmo que vocês não estejam mais morando em Bát Nhã, vocês continuam carregando o nome da Sanga de Bát Nhã. Vocês e Bát Nhã são um. Onde quer que vades, carregarão Bát Nhã consigo, e Bát Nhã se tornou um corpo diamante indestrutível. No gatha de abertura, que recitamos antes de ler o Sutra do Diamante, tem a expressão “corpo  de diamante”, da seguinte maneira:

Como podemos transcender nascimento e morte e alcançar um corpo de diamante indestrutível?
Como praticarmos para que possamos varrer todas as ilusões?
Pedimos ao Buda, a partir de sua compaixão por nós,
Que abra o armazém do tesouro para todos nós.
Por favor, explane os seus maravilhosos ensinamentos!

Bat Nha se tornou legendária, um corpo diamante – ninguém mais pode destruí-la. Bát Nhã é um lótus fragrante que floresceu da lama da ignorância, do medo, da ansiedade, corrupção e abuso de poder. Bát Nhã passou para a história. E vocês são afortunados de terem tido a oportunidade de contribuir com suas partes na manifestação do lótus Bát Nhã. Bát Nhã se tornou uma parte da herança cultural da nossa terra natal.

Os meus filhos e filhas de Bát Nhã não estão agora tomando refúgio somente no Templo Phuoc Hue, mas também estão presentes em muitos lugares, dentro e fora do país. Onde quer que vocês estejam, têm o lótus Bát Nhã em seus corações. Este lótus é a aspiração de praticar e ajudar os outros. Esta é a Mente de Iniciante. Esta é a Mente de Amor. É a fonte de energia que nos capacita a continuar sendo quem somos; ajudando-nos a não nos tornar corruptos ou comprados ou vencidos. Thây está muito feliz, porque Thây está escrevendo esta carta para confidenciar isso com vocês. Sob a assinatura de “Nguyen Lang”, Thây escreveu ao presidente do país e aos intelectuais do Vietnã e do além mar, pedindo-os para intervirem e se conscientizarem sobre a situação em Bát Nhã. E esta é a carta que Thây escreve para vocês.

Em primeiro lugar, Thây quer que vocês saibam que o Templo Phuoc Hue, onde muitos de vocês estão hospedados, também é o local onde Thây viveu por muitos anos na década de 1950. Naquele tempo, Thây ainda era muito jovem e o Templo Phuoc Hue ainda era muito simples, não tão desenvolvido como está hoje. Por trás do templo tinha um jardim de chá que tinha umas mil árvores. Thây tinha uma pequena cabana de sapé bem dentro do jardim de chá. Lá Thây vivia sozinho. Na cabana, só tinha uma cama e uma mesa. O Venerável Thai Thuan provavelmente pode lhes mostrar onde era o local da cabana. Uma noite,Thây sonhou com a mãe dele; ela tinha a mesma aparência de antes, com os seus cabelos pretos, longos e brilhantes. Enquanto Thây falava com a mãe dele com tamanha felicidade, ele de repente se acordou. E Thây lembrou-se que a sua mãe já tinha falecido muitos anos atrás. Thây se levantou e abriu a porta para caminhar ao ar livre. Não tinha sanitário na cabana, e como o vilarejo Cong Hinh (que é o vilarejo onde o Templo Phuoc Hue está situado) situava-se nas montanhas, cercado de árvores de chá, a pessoa podia urinar bem ao meio das árvores de chá. Assim que Thây pisou fora da cabana, Thây entrou em contato com o brilho do luar que cobria o vale de chá por inteiro. Era uma lua minguante, muito brilhosa, bela e gentil. A terra e o céu estavam calmos. E Thây teve a sensação de estar sendo envolvido nos braços de sua mãe; o amor de mãe era gentil como o luar da madrugada. De repente, Thây se iluminou com o fato de que a mãe dele nunca tinha morrido; que a mãe dele sempre esteve presente para ele, e que a verdadeira natureza dela não nascia nem morria. Toda tristeza e saudade que Thây vinha sentindo depois que perdeu sua mãe desapareceram de uma vez por todas, e ele sorriu ao luar da madrugada. Thây se lembra ter contado esta estória em algum outro lugar, talvez no livro Fragant Palm Leaves [Fragrantes folhas de palmeira]. Thây sabe que o vale do chá não mais existe. Que a cabana de sapé também não mais existe. Mas se vocês tiverem a chance de fazer meditação caminhando em volta do Templo Phuoc Hue à noite quando houver lua, visualizem aquela noite maravilhosa e, olhando para o alto em direção a lua, vocês verão Thây e a mãe de Thây sorrindo para vocês.

Durante a turnê de ensinamento 2009 nos Estados Unidos, um milagre aconteceu, e este foi o retiro em Estes Park, Colorado. Este retiro tinha 980 retirantes vindos de muitos estados diferente. Ele começou no dia 21 indo até 26 de Agosto de 2009. Entre os retirantes havia cerca de 50% que nunca tinham se encontrado com Thây, ouvido ensinamentos de Thây, ou participado em um retiro com Thây. Eles só conheciam Thây através de seus livros publicados nos EEUU. Eles vieram ao retiro com a intenção de ouvir diretamente os ensinamentos e orientações de Thây. Muitos deles tiveram que voar muitas horas para chegar a Denver. Depois eles tiveram que pegar ônibus para subir a montanha para participar do retiro. A Associação de Jovens Cristãos YMCA que está localizada em Estes Park, tem capacidade de prover acomodação, alimentação e sanitários para mais de mil pessoas. Ela está situada a mil metros acima do mar, por isso lá é muito fresco e frio. As montanhas são majestosas e sedutoras. A cada dois anos, Thây vai lá guiar retiros e todo retiro é cheio de gente. Mas desta vez, Thây não pôde participar e guiar o retiro por que estava doente. Os médicos do Hospital Geral de Massachusetts (MGH) depois de ter feito o diagnóstico, recomendaram que Thây não guiasse o retiro em Stonehill College em Massachusetts, e deveria também cancelar o retiro em YMCA para tratar de sua infecção pulmonar. Os médicos disseram que Thây tinha que ficar no hospital pelo menos uns 14 dias para tratamento. Doutor Sicilian – conhecido por sua especialidade em tratamentos de infecção pulmonar causados por pseudômonas aeruginosa, e responsável pela unidade de tratamento intensiva no décimo segundo andar do hospital – aconselhou a Thây que se internasse imediatamente naquela noite para que o tratamento fosse iniciado. Mas Thây decidiu voltar a Stonehill para completar aquele retiro, antes de voltar para ser internado naquele hospital. O tema do retiro em Stonehill era Seja paz, seja alegria, seja esperança. O retiro tinha começado no dia 11 de agosto de 2009, e no dia 13 de agosto de 2009, por volta das 17h, Thây teve algum tempo livre para ir fazer check-up. Algumas semanas antes, sintomas da infecção pulmonar crônica tinha se tornado severa, e ocasionalmente Thây via sangue vivo fresco ou velho e escuro em suas observações. Depois de cinco horas de espera e testes, todos os médicos aconselharam que Thây iniciasse o tratamento imediatamente, sem delongas.

Thây voltou à faculdade à meia-noite e, na manhã seguinte, foi para a meditação sentada com a Sanga, deu ensinamento de Darma, e participou da meditação caminhando como se nada tivesse acontecendo. Ninguém sabia que Thây estava doente. Todos disseram que os ensinamentos de Darma nos últimos três dias de retiro foram muito poderosos. Thây Pháp De disse a Thây: “Você estava luminoso durante estes ensinamentos de Darma”. Somente os irmãos e irmãs mais velhos sabiam que Thây estava doente e que Thây estava indo se hospitalizar logo que o retiro terminasse. No dia 14 de agosto houve uma reunião especial com os professores de Darma onde eles foram informados que Thây seria hospitalizado na segunda feira, 17 de agosto, e que Thây não iria voar para Denver para guiar o retiro. Naquela reunião, os professores de Darma delegaram uns aos outros as responsabilidades de guiar o retiro no lugar de Thây. Todos tomaram a iniciativa de apresentar-se como voluntário, sem esperar ser convidado ou solicitado. O retiro em Stonehill também tinha mil retirantes. Com exceção dos professores de Darma monásticos, ninguém sabia que Thây não iria participar do retiro em YMCA, Estes Park, inclusive os monges e monjas. Somente quando tinha quase chegada à hora de entrarmos no ônibus para ir ao aeroporto foi que os irmãos e irmãs souberam que Thây não iria voar com eles.  Esta foi a primeira vez que isso aconteceu: Thây não ter condições de participar de um retiro, e a Sanga ter que guiar o retiro no lugar dele. O time da organização estava ciente de que a hora estava chegando, não havia tempo suficiente para adiar o retiro, porque tudo estava preparado, desde acomodação, alimentação, inscrição, até as passagens aéreas; alguns inscritos de outros estados já estavam a caminho do retiro de carro ou ônibus.

Com certeza, haveria muitos retirantes decepcionados ou furiosos no dia de chegada, quando eles descobrissem que Thây não poderia estar presente. Muitos deles tinham lido livros de Thây por muitos anos, e esta era a primeira oportunidade deles se encontrarem com Thây e praticarem com Thây. Teve gente que prometeu aos amigos e parentes que depois do retiro voltaria para contar-lhes sobre suas experiências com Thây. Quanto maior a esperança e expectativa fossem, maior a decepção e tristeza seriam. Os irmão e irmãs monásticos voaram para Denver com aquela consciência, mas todos tinham a coragem de assumir a responsabilidade. Aquela era uma oportunidade deles provarem que eram dignos da confiança de Buda, dos patriarcas e de Thây. A oportunidade era agora ou nunca. Portanto, todos estavam determinados, e todos uniram esforços para guiar o retiro com todos os seus corações e mentes. A energia assim como a irmandade nunca tinha estado tão estável e forte quanto nestes dias.

Neste ínterim, Thây começou o tratamento em MGH, o maior e mais bem conceituado hospital no nordeste dos Estados Unidos. Thây foi hospitalizado no dia 17 de Agosto e na manhã do dia 21 de agosto, Thây escreveu uma carta aos retirantes em YMCA, Estes Park, Colorado. Do hospital, Thây foi informado que ao ouvirem a carta de Thây naquela noite muitas pessoas choraram, monásticos e também leigos. Depois de ler a carta, os irmãos e irmãs invocaram o nome do Bodisatva Avalokiteshvara, e depois deram uma orientação sobre as práticas durante todo o retiro. Após a orientação, toda a comunidade praticou o Nobre Silencia até depois do almoço do dia seguinte. A prática do Nobre Silêncio ajudou muito o retiro. Muitas pessoas tiveram a oportunidade de reconhecer e abraçar suas decepções e reações – formações mentais que surgiram quando eles receberam as notícias de que Thây não estaria presente no retiro. Na meditação caminhando da manhã seguinte, o café da manhã em silêncio e a primeira palestra de Darma ajudaram muitos retirantes a abraçarem e transformar a decepção, preocupação e outras formações mentais negativas.

A carta ainda continua... Depois Thây conta mais para vocês …

Um breve relato dos acontecimentos no mosteiro Prajña

Por Irmã Chan Khong [Verdadeira Vacuidade]


CARTA AOS POLÍTICOS DO GOVERNO DO VIETNÃ


Plum Village, 26 de junho de 2009


Ao respeitável Ministro do Exterior da República Socialista do Vietnã.
A todos vocês que amam e apóiam os 400 monásticos do Mosteiro Prajña.


Estes jovens monges e monjas, que estão na faixa de idade entre dezesseis e trinta e cinco anos, nasceram no Vietnã e foram educados e nutridos pela República Socialista do Vietnã. Eles estiveram vivendo no Mosteiro Prajña, Hamlet 13, Dambri Village, Bao Loc District, Lam Dong Province desde 2005, quando o nosso professor voltou à sua terra natal pela primeira vez.)


Por favor, deixe-me apresentar algumas informações elucidativas sobre a história do Mosteiro Prajña:

Nosso professor Thich Nhat Hanh – carinhosamente conhecido por seus alunos como “Su Ong”, que em vietnamita significa “Professor Avô” – está agora com 83 anos de idade. O desejo profundo dele para este presente dilema é que o governo vietnamita apóie e não atormente os filhos e filhas do seu próprio país materno, o Vietnã. A única aspiração dos jovens monásticos é praticar a paz e levar uma vida simples de serviço à humanidade e ao povo do Vietnã. A luta atual no Mosteiro Prajña deve preocupar a todos nós e se opõe aos direitos humanos de cada cidadão vietnamita. Nosso professor acredita que se o governo central estiver sabendo deste fato, poderá ajudar a por um fim nesta situação de forma justa.
Nosso professor não tem planos de retornar ao Vietnã mais uma vez, nem está pedindo coisa alguma ao governo vietnamita. Ele não está pedindo terra para estabelecer centros de prática, e já abandonou a idéia de pedir de volta àquela terra que pertencia à School of Youth for Social Service [Escola da Juventude para o Serviço Social]. (Esta terra pertencia oficialmente a SYSS até 1975 e desde então foi ocupada pelo governo). Todos nós temos visto sinais nos últimos anos de que o estado do Vietnã se abriu para mudanças. Nas três visitas à sua terra natal, o nosso professor de 83 anos, com o intuito de construir um belo futuro, tem partilhado com o governo central a sua profunda compreensão das necessidades do país. Ele partilhou tudo o que estava em seu coração e não tem nada mais a acrescentar.

Os eventos que estão sendo aqui partilhados é uma descrição dos atos criminosos cometidos por pessoas corruptas, que abusaram do poder que têm, com a colaboração silenciosa do serviço de imigração governamental e o departamento de assuntos religiosos nacional. Antes de o mosteiro ter sido oferecido ao nosso professor em 2005 pelo monge Duc Nghi com afirmações juradas e gravadas diante de milhares de pessoas, o terreno do templo onde o Mosteiro Prajña se localiza só tinha poucas construções: um pequeno salão de Buda, uma pequena casa de hóspedes, uns dois quartos para monges e uma cozinha de um pavimento com um teto de asbesto, e um prédio de um pavimento planejado para pessoas idosas. Além destas construções, o resto dos 30 hectares de terra estava vazio.

Durante a viagem de volta do nosso professor e da comitiva de Plum Village ao Vietnã, de 12 de janeiro a 11 de abril de 2005, houve muita gente que se entusiasmou para se tornar monástico e praticar meditação de acordo com a tradição de Plum Village. A viagem deixou mais de 80 aspirantes desejosos de se tornarem monásticos, então o monge Duc Nghi ofereceu o templo dele ao nosso professor e para estes jovens aspirantes. Ele celebrou a cerimônia de ordenação e raspou as cabeças deles com suas próprias mãos como representante do nosso professor. Esta propagação de jovens dedicando suas vidas para servir inspirou muitos de nós e trouxe energia positiva e benéfica ao país e aos praticantes budistas ao redor do mundo.

Todos os amigos de várias partes do mundo que apreciavam os ensinamentos de Plum Village se entusiasmaram por este desenvolvimento e se sensibilizaram para apoiar os esforços do monge Duc Nghi de sustentar estes jovens praticantes. Eles começaram a se organizar em suas comunidades para angariar fundos e doações que eram todas enviadas ao templo Prajña para ajudar a prover estes jovens monásticos e desenvolver e construir mais prédios para alojá-los.

Os amigos estrangeiros que seguiam a tradição de Plum Village investiram grandes somas de dinheiro aos empenhos de construir o Mosteiro Prajña. Nós pagamos U$90.000 (noventa mil dólares americanos) para renovar e contribuir com o prédio anteriormente planejado para as pessoas idosas, mas que estava inabitável, com o acordo de que outro prédio para idosos seria construído em outro templo próximo. Nós transformamos este prédio num de três pavimentos que contém um salão de meditação, um refeitório, uma cozinha e dormitórios para cem monjas, que ficou chamado de Prédio Jacarandá. A procura por mais espaço de moradia aumentou com o número de aspirantes e praticantes vindos de toda parte do país e posições sociais. Não podíamos recusar a nobre aspiração e coração puro deles. Na área das monjas, nós tivemos até que espremer 16 pessoas em um único quarto usando beliches de três níveis. Então tivemos que construir um segundo prédio para 100 monges, chamado de Prédio Floresta das Fragrantes Folhas de Palmeira. Mas o número de jovens aumentou tão rapidamente que tivemos que construir uma segunda residência de monjas para outras 100 monjas, chamado de Prédio Salgueiro Verde. Na área dos monges, já subimos outro prédio para moradia de aspirantes homens, chamado de Prédio Mente de Principiante.

Até o final do ano, o número de pessoas aumentou tanto, muito além de todas as nossas expectativas. Com o monge Duc Nghi agindo a nosso favor, nós compramos um terreno adjacente e construímos outro amplo prédio para monjas e membros laicos da Ordem Interser. Nós também renovamos a área da cozinha e a transformamos em um prédio de dois pavimentos com uma cozinha totalmente nova no térreo, uma ampla despensa e refeitório no andar superior. Além disso, nós também construímos um amplo salão de meditação que poderia acomodar milhares de pessoas para meditação sentada e para ouvir o Darma. Estes são os maiores investimentos que os nossos amigos estrangeiros e de casa investiram neste mosteiro, isso sem mencionar as pequenas contribuições que apóiam a manutenção diária e funcionamento deste mosteiro.

Assim como o súbito influxo de jovens no mosteiro, muitos destes jovens monásticos concluíram recentemente o segundo grau. Um número substancial deles tem curso universitário e alguns até mesmo tiveram carreiras bem sucedidas em suas áreas. Mas abandonaram suas carreiras por um propósito mais elevado, respondendo a um chamado vindo de dentro do coração para que vivessem uma vida simples de serviço aos outros com compreensão e amor. Como o monge Duc Nghi ordenou a todos eles em nome de nosso Professor, todos se referem ao monge Duch Nghi como “Si Fu”, que significa “Professor Pai” em chinês. Estes quatrocentos jovens nasceram para a vida espiritual e estiveram praticando no Mosteiro Prajña por toda vida monástica deles – no terreno sagrado onde o monge Duc Nghi se comprometeu a apoiar a prática deles na tradição de Plum Village. Ele agiu em nome deles e do nosso nome ao comprar terreno e construir prédios com o capital de terceiros para eles viverem.

Como conseqüência da sincera prática deles, mesmo após poucos meses ou poucos anos, nós vimos tantos frutos maravilhosos desabrochando em suas famílias. Muitas estórias foram partilhadas – de pais que pararam de bater nas mães, de divórcios que foram evitados, de reconciliações entre membros de famílias divididas. Na medida em que estas estórias foram se espalhando pelo país e ao redor do mundo, muitos outros jovens se inspiraram a seguir a vida monástica e muitos outros vieram para ajudar e doar em apoio ao mosteiro. Nós temos a relação dos recibos destas doações feitas pelo povo vietnamita e pelos patrocinadores estrangeiros de todo o mundo. As intenções desde o início foram deixadas claras e reconhecidas por todos, inclusive a afirmação jurada e gravada do monge Duc Nghi, que o desenvolvimento das propriedades do Mosteiro Prajña era para estes jovens monásticos viverem e praticarem.

Em 2007, durante a sua segunda visita ao Vietnã para celebração de três missas de réquiem ao público em geral por nosso professor e a comitiva de Plum Village, o nosso professor foi convidado a visitar o Presidente do Vietnã. Nosso professor partilhou que ele o visitaria somente se o governo estivesse pronto a ouvir a voz do povo. O Presidente concordou e a reunião entre os dois aconteceu. Durante a visita e diálogo informal, nosso professor fez algumas sugestões que ele achava que ajudaria a melhorar as relações do país internamente e diplomaticamente. Ele preparou uma proposta com dez pontos que incluía sugestões, tais como permitir aos europeus ou americanos de origem vietnamita a retornar ao Vietnã por 90 dias sem um visto, da forma como eles podem entrar em outros países. Ele também sugeriu que estes vietnamitas no exterior tivessem dupla cidadania, e a construção de um monumento em memória do monge Thich Quang Duc, que morreu defendendo o fim da discriminação religiosa sob o regime Diem. Parece que o governo levou adiante praticamente todas as sugestões do nosso professor, fazendo-as mais populares aos estrangeiros e povo de casa, com exceção da última sugestão, que era para dissolver dentro de um período de cinco ou seis anos o Departamento de Assuntos Religiosos e política religiosa.

Parece que as dificuldades com o Mosteiro Prajña podem ser rastreadas até este ponto, a esta última sugestão do nosso professor. É claro que existem muitas outras condições e forças imprevistas e causando indiretamente a virada das intenções e dos eventos, especialmente do monge Duc Nghi. Antes do nosso professor e da comitiva de Plum Village retornarem ao Vietnã pela terceira vez, em 2008 para participar da UNESCO Vesak conference, o monge Duc Nghi partilhou muitas vezes que o Departamento de Imigração tinha pedido permissão a ele para expulsar, do mosteiro e do Vietnã, os monges e monjas estrangeiros de Plum Village, que já tinham obtidos um visto válido. Temos estas declarações de Duc Nghi feitas ao nosso professor e outros professores do Darma de Plum Village gravadas duas vezes.

A tragédia começou a se intensificar no dia 8 de agosto de 2008, quando a polícia nos enviou uma carta afirmando que o proprietário do templo onde os 379 monásticos estavam morando (isto é, o monge Duc Nghi) queria eles todos fora da propriedade, e tinha pedido a polícia para despejá-los, e, de acordo com a carta, os monásticos estariam vivendo ali ilegalmente. Desde aquele dia, a polícia tem vindo quase toda noite checar a identidade de cada monástico, e pedir a eles para assinar um documento que diz que eles estão vivendo ali ilegalmente. Os monásticos se recusaram a assinar estes documentos e permaneceram calmos e amáveis diante disto. Eles sempre falaram gentilmente com os policiais e até mesmo ofereceram chá e canções para eles aliviarem suas tensões. Os policiais ficaram muito envergonhados com a situação, mas não podiam desobedecer as ordens de seus superiores. Com o pedido de ajuda ao governo feita pelo povo, as pessoas vêm esperando por esta inteligente intervenção do governo, mas não obtiveram qualquer resposta.

A partir de agosto de 2008 até hoje, o serviço de imigração não tem dado vistos aos professores de Darma de Plum Village de cidadania não-vietnamita para entrarem no Vietnã. Estes professores de Darma não podem voltar para ensinar estes 400 monásticos que foram ordenados no Mosteiro Prajña desde o primeiro retorno do nosso professor ao Vietnã em 2005. A repartição do serviço de vistos da Embaixada Vietnamita na França até mesmo cancelou o visto de cinco anos dado anteriormente a duas irmãs de Plum Village para visitarem o Vietnã. Nós ainda não protestamos nada disto, e permanecemos pacientes com os líderes do Vietnã.

No dia 13 de novembro de 2008, nós pedimos ao Embaixador do Vietnã em Paris para transmitir 600 cartas de praticantes franceses ao governo do Vietnã, pedindo amavelmente que o governo intervenha na situação do Mosteiro Prajña. A Embaixada apoiou de todo coração este esforço enviando todas as cartas através de email ao invés de através do correio diplomático. No dia 19 de novembro, o governo central organizou uma reunião em Ho Chi Minh City para tentar resolver o problema pacificamente. Após a reunião, muitos monges e dignitários da Igreja Budista anunciaram alegremente para nós que tudo estava bem e que a decisão estava tomada: os jovens monásticos poderiam permanecer e praticar em paz no Mosteiro Prajña, o único lar espiritual deles. Nós pedimos um relato escrito da reunião e da decisão, e eles nos prometeram enviar em breve tal relato. Depois de três meses, o relato finalmente chega, mas nele estava dito o oposto do que tinha sido previamente anunciado como sendo o resultado da reunião do dia 19 de Novembro. Foi dito de forma rude aos 400 monges e monjas que se mudassem do terreno do mosteiro até o dia 29 de abril de 2009. Daquele dia em diante, a entrada do mosteiro tem estado trancada e acorrentada. As pessoas laicas que vem aos retiros de finais de semana são afugentadas.

No dia 26 de junho de 2009, Dong Nanh, um discípulo de Duc Nghi, e alguns outros tentaram queimar as nossas cabanas com telhados de sapé que os monásticos usam para retiros solitários. Como estava chovendo, as cabanas não se incendiaram, então eles usaram picaretas para derrubar as cabanas. Quando um monge e uma monja vieram pedir a eles que parassem, eles os atacaram com as mesmas ferramentas. Felizmente, nós escapamos ilesos por um triz. Uma moça se ajoelhou e implorou aos agressores que a matassem ao invés dos monges. Alguns de nós tiramos fotos destes eventos. Devido à escalada de violência e do perigo a estes monásticos, nós pedimos seriamente ao embaixador que leve isto à atenção do governo central.

Nós compreendemos a fé ingênua de Dong Hanh, discípulo de Duc Nghi, para com o professor dele que por isso o forçou a trilhar este caminho obscuro. O próprio Dong Hanh disse que ele tinha ido longe demais e não podia voltar. Esta é uma afirmação alarmante. Todos nós ainda podemos rezar para que haja esperança e saída para ele se ele tiver a coragem. Existe um grande número de relatos de residentes antigos da província de Bao Loc, onde o Mosteiro Bat Nha está localizado, sobre as ações passadas do monge Duc Nghi, que são semelhantes, mas de proporção menor; contudo, tão erradas e prejudiciais quanto às presentes. Agora diante de nós, pedimos somente para viver e praticar pacificamente em nossa casa espiritual com todos os direitos de qualquer outro cidadão vietnamita.

Em Novembro de 2008, o nosso professor escreveu uma carta ao monge Duc Nghi pedindo a ele para retornar as responsabilidades dele enquanto professor-pai destes 400 jovens monásticos. Nosso professor estava pronto para perdoar e esquecer qualquer erro passado. Nós ainda sustentamos o pedido de nosso professor e estamos prontos a fazer o que for necessário para levar paz ao Mosteiro Prajña, sob a condição de que as vidas destes 400 monásticos sejam salvas.

Semana passada, em um esforço coordenado de propaganda, os chefes de catorze aldeias da vila Dambri anunciaram uma reunião com os moradores para declarar que se o governo expulsa nossos monásticos, é porque os monásticos legalmente ordenados estão engajados em política. Isto seria difícil de provar, pois a maior parte das atividades diárias e anuais dos monges e monjas inclui meditação sentada, cânticos, cuidar do jardim, meditação caminhando e muitas outras práticas da consciência plena. A única intenção deles é viver uma vida simples e pacífica sem engajamento em qualquer atividade política. Tem havido muitos relatos de policiais chamando os pais destes jovens monges e monjas, e pedindo a eles para levarem os seus filhos de volta à vida familiar, e renunciarem a escolha deles de uma vida espiritual. Estes incidentes ocultos nos revelam que isto não é só uma questão interna entre Duc Nghi e nossos monásticos, mas um esforço coordenado por várias forças governamentais, cujos motivos estão se tornando cada vez mais claros a cada evento.

Esta é uma carta pessoal escrita para esclarecer àqueles que conhecem nossa comunidade e nossa situação no Mosteiro Bat Nha. Se algum de vocês ai puderem ajudar nossos irmãos e irmãs com sua conexão e influência, por favor, ajam motivados a partir da compaixão e espírito de reconciliação. Se esta carta puder ser partilhada com o Embaixador Vietnamita na França, Estados Unidos ou Canadá, talvez ela possa ser transmitida a várias autoridades de alto calão do governo central Vietnamita que conhecem nosso professor e amam sim e apóiam estes jovens monásticos. Por favor, estejam motivados a agir.

Com amor e confiança,

CK


[Carta publicada no blog helpbatnha.org e traduzida por Tâm Vãn Lang - O lindo bem estar do coração]

URGENTE! Apelo dos jovens monásticos do Mosteiro Prajña

TUDO O QUE QUEREMOS É UM LUGAR SEGURO PARA PRATICAR!
POR FAVOR, AJUDEM-NOS!

Queridos irmãos e irmãs e amigos de Plum Village do mundo todo,

Estamos escrevendo esta carta para lhes informar sobre a situação urgente do Mosteiro Prajña, um dos centros de práticas da tradição de Plum Village no Vietnã, e pedir-lhes que ajudem a salvar este mosteiro, para que os quatrocentos jovens monges e monjas possam ter um local livre de perigos para praticar.

Como muitos de vocês estão cientes, Thây (Mestre Zen Thich Nhat Hanh) teve permissão de voltar ao Vietnã pela primeira vez em 2005, depois de estar exilado por 39 anos. Embora Thây só pudesse dar palestras de Darma em templos e não em locais públicos, dezenas de milhares de pessoas vieram ouvir Thây.

Os benefícios mais notáveis foram as transformações que aconteceram entre os jovens vietnamitas. Conseqüentemente, muitos jovens expressaram profundas aspirações de continuar a praticar em suas vidas diárias, e sentiram que estariam perdidos depois que Thây e sua comitiva partissem do Vietnã. Naquela ocasião, o Venerável Abade do Templo Prajña também pediu que Thây aceitasse o seu templo e o transformasse em um mosteiro que treinasse monásticos e amigos laicos somente na tradição de Plum Village. Tendo considerado as reais necessidades das pessoas jovens para uma prática espiritual, Thây aceitou os pedidos do Venerável Abade do Prajña, mas com uma condição: ele continuaria sendo o Abade de lá. Thây ordenou mais de vinte jovens durante a sua primeira volta ao Vietnã, e, por conseguinte, estes jovens monges e monjas se mudaram para o Templo Prajña para receber mais treinamento. Desde então, mais de trezentos jovens se ordenaram na tradição de Plum Village no Vietnã. Os irmãos e irmãs mais antigos de Plum Village foram enviados de volta ao Vietnã para treinar estes jovens praticantes. Por mais de três anos, de meados de 2005 a 2008, e com o amoroso apoio e generosas doações de membros das Sangas Internacionais de Plum Village, da América do Norte, Europa, Austrália e Ásia, salões de meditação, dormitórios, refeitórios e cozinhas foram construídas e lotes de terra foram comprados em áreas adjacentes, para acomodar esta população de monásticos e praticantes leigos que cresceu muito rapidamente.

Quando Thây retornou ao Vietnã em 2007, nossos irmãos e irmãs monásticas já demonstravam estar bem crescidos espiritualmente. Seus trabalhos incansáveis, alegria e frescor ajudaram para que as três Grandes Cerimônias de Réquiem realizadas por todo país fossem um experiência de cura profundamente comovente para o povo vietnamita, assim como para todos nós que pudemos acompanhar Thây no Vietnã. Nestas cerimônias rezamos indistintamente por todas as pessoas que morreram na Guerra do Vietnã. Durante esta viagem, também ouvimos conversas sobre a mudança de sentimentos do Venerável Abbot do Prajña; ele teria se tornado cada vez mais descontente porque os monásticos focavam demasiadamente na prática e retiros de Consciência Plena e muito pouco nos trabalhos de caridade e na expansão do Mosteiro Prajña e também em outros lugares. A abordagem de Thây foi clara: “Nós queremos ajudar a construir seres humanos, não estabelecimentos.” Em 2008, Thây e a comitiva de Plum Village voltaram ao Vietnã para ajudar na Celebração do Vesak Internacional em Hanoi. Nós também tivemos vários retiros antes deste grande evento. Mais uma vez, os praticantes monásticos vietnamitas foram os principais organizadores nesta ocasião. Depois da Celebração do Vesak, Thây foi ao Mosteiro Prajña para visitar os jovens irmãos e irmãs monásticos. Thây ofereceu a eles profundos ensinamentos, todo dia, durante àquelas três semanas. O Venerável Abade estava ausente a maior parte do tempo em que Thây estava lá. Uma vez em uma sessão de perguntas e respostas, uma jovem monja perguntou ao Venerável Abade diretamente: “Respeitável Professor, nós ouvimos conversas de que você iria tomar o Prajña de volta e mandar todos nós embora. Isto é verdade? Por favor, diga-nos. Nós estamos com muito medo…” O Abade respondeu que “desde que você pratique sinceramente, ninguém irá lhe mandar embora.”

Lamentavelmente, desde outubro de 2008, muitos atos de hostilidade e violência estiveram acontecendo. Grupos de homens foram mandados para jogar fora na entrada os pertences dos jovens monges. Os portões do mosteiro foram trancados a chave para que os amigos laicos não pudessem entrar nos Dias de Consciência Plena. Cânticos da tradição da Terra Pura ficaram tocando em caixas de som o dia inteiro, mesmo quando os jovens monásticos praticavam meditação sentada. Policiais vinham procurar e interrogar monges e monjas a qualquer hora do dia e noite. Alguns monges e monjas foram perseguidos com objetos mortais. Eletricidade, água e linhas telefônicas foram cortadas e a entrega de alimentos vem sendo impedida... A mensagem é clara: o Venerável Abade não quer mais patrocinar os jovens monges e monjas da tradição de Plum Village no Prajña. Eles estão para voltar para casa ou ir para outros templos. No entanto, a implicação mais grave é que este é um esforço conjunto de certos líderes religiosos e políticos para banir do Vietnã a prática de consciência plena da tradição de Plum Village. Apesar das ameaças furiosas e graves violações dos direitos humanos e liberdade religiosa, quase 400 jovens monges e monjas continuam firmes no Prajña; somente cerca de dez deixaram o mosteiro durante estes dois últimos anos de turbulência, enquanto jovens continuam chegando pedindo para serem ordenados. Se você tivesse vindo aqui praticar conosco alguma vez, compreenderia que nós apenas praticamos a não-violência e compaixão; quando a tensão é insuportável, nossos jovens irmãos e irmãs praticam o Nobre Silêncio e jejum.


Há muito tempo, o Venerável Abade deixou o Prajña para ficar em um local discreto, mas os seus discípulos monásticos mais velhos permaneceram no Prajña para ajudar a conduzir estes incidentes. Nós estamos cientes de que o Venerável Abade também é apenas uma vítima. Não duvidamos que, inicialmente, ele tinha uma vontade sincera de proporcionar um centro de prática para os jovens no Vietnã. Como o Venerável Abade já partilhou publicamente muitas vezes, a visão pioneira de Thây sobre o Budismo Engajado e o seu trabalho social durante a Guerra do Vietnã inspirou o Abade desde quando ele era um noviço e o ajudou a persistir no caminho monástico mesmo durante os tempos de maiores provações. No entanto, durante os trinta e nove anos de prática no ocidente, a compreensão de Thây sobre o Budismo e a sua abordagem de serviço se aprofundou e mudou muito. Esta divergência de foco e ideal causou tensão e reação no Venerável Abade. Na medida em que o Mosteiro Prajña se tornou mais desenvolvido e bem respeitado, as sementes de ambição e inveja atiçaram mais descontentamento nele... Mas o Abade sozinho não teria sido capaz de planejar e manter todos estes contínuos atos destrutivos e odiosos. Com certeza, o Mosteiro Prajña não teria sido capaz de se manifestar e funcionar nestes quatro últimos anos se não fosse pela admiração profunda e apoio silencioso de certos líderes religiosos e políticos importantes no Vietnã. Ao mesmo tempo, sempre houve aqueles líderes que são radicalmente contra Thây. Toda vez que Thây estava no Vietnã, ele se reportava honestamente aos problemas reais que o país estava enfrentando. Ele se encontrou com o Primeiro Ministro anterior e atual Presidente do Vietnã e ofereceu propostas concretas ao governo, ao Partido Comunista, e a Igreja Budista Nacional do Vietnã, etc. Thây até mesmo aconselhou dizendo que o Vietnã deveria aprofundar o relacionamento dele com outros países e diminuir sua dependência da China... Alguns argumentam que Thây deveria ter ficado calado sobre estas questões, e talvez o Mosteiro Prajña tivesse sido deixado em paz. Thây tinha o poder, a posição e a coragem de falar e ser ouvido. Se Thây não fizesse quem poderia fazer e faria? A questão não é só Prajña. É o aprofundamento de nossa prática enquanto tradição espiritual e o fortalecimento de nossa soberania no espírito de irmandade; é nesse sentido que devemos todos trabalhar juntos.


As práticas de consciência plena da tradição de Plum Village têm provado que são aplicáveis e efetivas a todas as pessoas da atualidade. Desde que o Mosteiro Prajña surgiu, milhares de jovens e vietnamitas instruídos têm vindo tomar refúgio nele. Até mesmo os membros da Sanga de Hong Kong e Austrália fazem viagens anuais ao Prajña para praticar. Prajña é símbolo de nossa aspiração e esperança de um futuro melhor para o Vietnã. Deixem-nos ajudar uns aos outros a abrir mão de interesses pessoais, desentendimentos e ressentimentos. Deixem-nos assegurar os direitos humanos e liberdade religiosa para todas as pessoas, particularmente para estes jovens monges e monjas do Mosteiro Prajña. Se você está numa posição que pode ajudar, por favor, ajude. Se você pode contatar amigos, religiosos, políticos que podem ajudar, por favor, peça a eles para nos ajudar. A consciência coletiva e nossa voz internacional podem ajudar a proteger as vidas monásticas destes jovens rapazes e moças e assegurar um local livre de perigos para eles praticarem juntos. Nossa prática é “avançar como um rio”. Gotas de água evaporariam na metade do caminho, mas um rio consegue chegar ao oceano. Queremos ser capazes de viver e praticar juntos enquanto uma família espiritual. Queremos oferecer um local de refúgio para todos que buscam a paz. Neste momento, não podemos simplesmente encontrar outro local para nos mudar, visto que existem quase quatrocentos monges e monjas ao todo. Além do mais, é improvável que os monges e monjas seriam deixados em paz para praticar, mesmo que fossem transferidos. Portanto, nós confiamos nossa proteção aos nossos ancestrais espirituais e vocês.


A todos o nosso humilde pedido,


Ass: Irmãos e Irmãs monásticos do Mosteiro Prajña


[Uma forma de ajudá-los é assinando a petição que está sendo organizada por membros da Order of Interbeing dos EEUU. Basta entrar no site http://helpbatnha.org/2009/07/petition-letter-to-the-vietnamese-consulate/ e assinar o seu nome – você não precisa ser afiliado a esta tradição para se solidarizar com os irmãos e irmãs da tradição de Thich Nhat Hanh no Vietnã.]


Para ler a carta de petição em português que será enviada ao Consulado Vietnamita acesse o site da Sangha Plena Consciência de São Paulo: http://sanghaplenaconscienciasp.blogspot.com

Notícias de Bát Nhã por Irmã Verdadeira Concentração


O sol continua a brilhar sobre o Mosteiro Prajña


Querido amigos,


Para aqueles entre vocês que podem estar querendo saber sobre a atual situação em Bat Nha, eu falei ontem com um contato meu de lá. Parece que há alguma mudança positiva. A entrega de alimento não mais está interrompida, embora algumas pessoas que inicialmente levaram comida estejam, segundo notícias, ‘temerosas’, e não querem mais entregar comida lá. Aparentemente os moradores da região foram instruídos a permanecerem distantes do caso. O povo deste país é naturalmente relutante para se associar com ‘transtornos’, então não é surpreendente que eles tenham se sujeitado a isso.


A energia elétrica ainda não foi ligada, o que significa que ainda não há uma fonte de água adequada, confiável. A estação da chuva está sobre nós, portanto não há falta de água de chuva. As irmãs continuam a coletá-la para consumo.


Todos os 379 monásticos começaram, nesta semana, a usar o grande salão de Buda para cânticos e meditação em grupo. Devido à falta de luz, eles ajustaram o horário e está começando uma hora mais tarde toda manhã.


Disseram-me que eles estão simplesmente esperando, sem saber o que estar por vir ou onde eles devem ir quando deixarem o mosteiro. A compreensão deles, até aqui, é que eles serão enviados a outros templos, talvez alguns para Dalat e outros para a Universidade Budista na cidade Ho Chi Min. Eles têm esperança de poderem ficar juntos em grandes números para continuarem a apoiar uns aos outros nas práticas de Plum Village.


Durante estes últimos meses e semanas, eu achei que o comportamento do abade foi o mais surpreendente e perturbador. Ele esteve em Plum Village muitas vezes. Recebeu de Thây a Transmissão da Lamparina [cerimônia que autoriza o iniciado a dar aulas de Darma nesta tradição]. No início, ele era um homem gentil e amável que acreditava no poder da nossa prática para transformar o sofrimento. Talvez o tempo nos revele o que causou esta visível mudança nele.


A minha citação preferida de Thây é “A paz verdadeira não toma partido”. Eu sei que muitas de nossas sangas estão concentrando e enviando “metta” [meditação do amor imensurável] aos jovens monges e monjas em Bat Nha. Por favor, incluam o antigo abade e seguidores dele, as pessoas da região que não sabem em quem e em quê confiar, o governo municipal e nacional que estão, talvez, mal orientados, e a liderança de Plum Village que se sente com a responsabilidade de cuidar daqueles em Bat Nha.


Estou sempre lembrada de começar a partir de mim.


Envio-lhes um pedaço do céu azul e muitas nuvens brancas fofinhas.


Irmã Verdadeira Concentração sobre a Paz


“A única bondade é o conhecimento. O único mal é a ignorância.”
- Socrates