segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Tensão religiosa aumenta no Vietnã


Quatro anos atrás o mestre Zen Thich Nhat Hanh, um monge que popularizou o budismo no ocidente, foi convidado pelo governo vietnamita a regressar ao país depois de 39 anos de exílio.   

Esta mudança foi vista como um sinal de que as autoridades estavam se tornando mais tolerantes para com a religião, uma questão muito delicada no Estado Comunista.

Mas quatro anos depois, há sinais de que esta recém-chegada tolerância das autoridades está desaparecendo.Os seguidores de Thich Nhat Hanh dizem que eles foram forçados a sair do mosteiro, pela polícia e uma multidão raivosa que saquearam o prédio durante o final de semana.De acordo com relatos, cerca de 150 monges foram expulsos do mosteiro Bat Nha e mais de 200 monjas partiram sozinhas na segunda-feira.



Católicos no Vietnã estiveram nos últimos dois anos envolvidos numa disputa com o governo, realizando demonstração em massa para exigir que as autoridades devolvam as terras que eles dizem que pertencem à Igreja.

Abordagem relaxada

O governo defende que a religião deve ser uma questão privada, mas tinha começado a aliviar suas garras na liberdade religiosa muito por razões econômicas.

Alguns analistas dizem que antes de entrar no World Trade Organization em 2007, Hanói estava sob pressão dos Estados Unidos e dos governos europeus para conceder ao povo uma maior liberdade religiosa.Por isso o governo teria adotado uma abordagem mais relaxada.

As peregrinações de líderes partidários aos templos e altares das deidades locais famosas que não costumavam atrair a atenção se tornaram aceitáveis e passaram a ser regularmente destacadas na mídia.
Monges da Sanga Budista Vietnamita pró-governo eram freqüentemente convidados a abençoar os prédios ministeriais ou entoar orações nos funerais militares.

Mas com o Vietnã agora dentro do WTO e fora da lista negra do Departamento religioso dos Estados Unidos, alguns analistas acreditam que isso teria levado o governo a retornar aos seus estilos antigos de atuação.
O charme diplomático ofensivo funcionou, o pensamento prossegue, e há medos de que qualquer relaxação maior poderia ameaçar potencialmente o monopólio do partido no poder.

Por exemplo, o governo diz que foi o abade do mosteiro que pediu aos seguidores do Mestre Zen Thich Nhat Hanh para deixar o mosteiro – eles descrevem o impasse com um conflito entre duas facções budistas.
Mas os analistas dizem que a restrição governamental começou quando Thich Nhat Hanh urgiu ao governo que parasse de controlar a religião e clamou que a polícia religiosa fosse desintegrada.

Poder de organização

Há também a disputa da terra entre a igreja católica e o governo.

Apesar das inúmeras reuniões altamente divulgadas, o Vaticano e o governo não conseguiram chegar num acordo e Hanói mostra poucos sinais de que vai recuar.

Durante sua recente visita à Budapeste, o Primeiro Ministro Nguyen Tan Dung defendeu firmemente a política de Hanói, afirmando que “o Vaticano não tem propriedades no Vietnã”.

Parece improvável que se chegará a um consenso quando o Presidente Nguyen Minh Triet visitar o Vaticano no fim deste ano.

Os esforços para normalizar as relações com o Vaticano foram ainda mais obstruídos porque alguns militantes católicos foram presos, e tem havido confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança.
A mídia do governo tem tentado abafar as crescentes tensões, mas a mídia católica internacional tem publicado vídeos e recentes reportagens sobre os protestos e tensões que tem acontecido.

O Padre  Huynh Cong Minh da Arquidiocese de  Saigon diz que ''gostem ou não, os Católicos no mundo todo estão organizados e isto é o que o governo comunista mais teme".

Falando para o serviço da BBC vietnamita ele rejeitou as acusações de que a Igreja Católica estivesse agindo “contra o governo”.

No entanto, ele disse que a Igreja deve ter voz nas questões sociais e deve falar contra a corrupção.
Nguyen Hong Duong, um antigo chefe do Instituto de Estudos Religiosos de Hanoi disse a BBC que “alguns padres católicos tentaram transformar as disputas civis em questão religiosa e isto deve parar”.

Instinto ideológico

Apesar da preocupação oficial, muitas pessoas, e especialmente profissionais jovens estão cada vez mais se voltando à religião.
 
Milhões de peregrinos agora viajam anualmente pelo país até os altares distantes de deidades locais como também aos templos budistas e igrejas cristãs.

Como um morador de Hanói explica: “nós vemos na televisão um jogador de futebol como Ronaldo fazendo o sinal cristão da cruz. Então a religião não pode ser algo assim tão mau”.

Também preocupante para um governo que não quer a religião prejudicando a política está o fato de serem cristãos muitos dos dissidentes mais proeminentes do país, dos militantes pelos direitos humanos e advogados a favor da democracia.

Diante destes últimos desafios religiosos, e com o próximo Congresso do Partido Comunista a ser realizado em pouco mais de um ano, alguns analistas acreditam que teria sido por isso que o antigo instinto ideológico de exercer controle voltou à tona.