segunda-feira, 12 de outubro de 2009
URGENTE! Apelo dos jovens monásticos do Mosteiro Prajña
TUDO O QUE QUEREMOS É UM LUGAR SEGURO PARA PRATICAR!
POR FAVOR, AJUDEM-NOS!
Queridos irmãos e irmãs e amigos de Plum Village do mundo todo,
Estamos escrevendo esta carta para lhes informar sobre a situação urgente do Mosteiro Prajña, um dos centros de práticas da tradição de Plum Village no Vietnã, e pedir-lhes que ajudem a salvar este mosteiro, para que os quatrocentos jovens monges e monjas possam ter um local livre de perigos para praticar.
Como muitos de vocês estão cientes, Thây (Mestre Zen Thich Nhat Hanh) teve permissão de voltar ao Vietnã pela primeira vez em 2005, depois de estar exilado por 39 anos. Embora Thây só pudesse dar palestras de Darma em templos e não em locais públicos, dezenas de milhares de pessoas vieram ouvir Thây.
Os benefícios mais notáveis foram as transformações que aconteceram entre os jovens vietnamitas. Conseqüentemente, muitos jovens expressaram profundas aspirações de continuar a praticar em suas vidas diárias, e sentiram que estariam perdidos depois que Thây e sua comitiva partissem do Vietnã. Naquela ocasião, o Venerável Abade do Templo Prajña também pediu que Thây aceitasse o seu templo e o transformasse em um mosteiro que treinasse monásticos e amigos laicos somente na tradição de Plum Village. Tendo considerado as reais necessidades das pessoas jovens para uma prática espiritual, Thây aceitou os pedidos do Venerável Abade do Prajña, mas com uma condição: ele continuaria sendo o Abade de lá. Thây ordenou mais de vinte jovens durante a sua primeira volta ao Vietnã, e, por conseguinte, estes jovens monges e monjas se mudaram para o Templo Prajña para receber mais treinamento. Desde então, mais de trezentos jovens se ordenaram na tradição de Plum Village no Vietnã. Os irmãos e irmãs mais antigos de Plum Village foram enviados de volta ao Vietnã para treinar estes jovens praticantes. Por mais de três anos, de meados de 2005 a 2008, e com o amoroso apoio e generosas doações de membros das Sangas Internacionais de Plum Village, da América do Norte, Europa, Austrália e Ásia, salões de meditação, dormitórios, refeitórios e cozinhas foram construídas e lotes de terra foram comprados em áreas adjacentes, para acomodar esta população de monásticos e praticantes leigos que cresceu muito rapidamente.
Quando Thây retornou ao Vietnã em 2007, nossos irmãos e irmãs monásticas já demonstravam estar bem crescidos espiritualmente. Seus trabalhos incansáveis, alegria e frescor ajudaram para que as três Grandes Cerimônias de Réquiem realizadas por todo país fossem um experiência de cura profundamente comovente para o povo vietnamita, assim como para todos nós que pudemos acompanhar Thây no Vietnã. Nestas cerimônias rezamos indistintamente por todas as pessoas que morreram na Guerra do Vietnã. Durante esta viagem, também ouvimos conversas sobre a mudança de sentimentos do Venerável Abbot do Prajña; ele teria se tornado cada vez mais descontente porque os monásticos focavam demasiadamente na prática e retiros de Consciência Plena e muito pouco nos trabalhos de caridade e na expansão do Mosteiro Prajña e também em outros lugares. A abordagem de Thây foi clara: “Nós queremos ajudar a construir seres humanos, não estabelecimentos.” Em 2008, Thây e a comitiva de Plum Village voltaram ao Vietnã para ajudar na Celebração do Vesak Internacional em Hanoi. Nós também tivemos vários retiros antes deste grande evento. Mais uma vez, os praticantes monásticos vietnamitas foram os principais organizadores nesta ocasião. Depois da Celebração do Vesak, Thây foi ao Mosteiro Prajña para visitar os jovens irmãos e irmãs monásticos. Thây ofereceu a eles profundos ensinamentos, todo dia, durante àquelas três semanas. O Venerável Abade estava ausente a maior parte do tempo em que Thây estava lá. Uma vez em uma sessão de perguntas e respostas, uma jovem monja perguntou ao Venerável Abade diretamente: “Respeitável Professor, nós ouvimos conversas de que você iria tomar o Prajña de volta e mandar todos nós embora. Isto é verdade? Por favor, diga-nos. Nós estamos com muito medo…” O Abade respondeu que “desde que você pratique sinceramente, ninguém irá lhe mandar embora.”
Lamentavelmente, desde outubro de 2008, muitos atos de hostilidade e violência estiveram acontecendo. Grupos de homens foram mandados para jogar fora na entrada os pertences dos jovens monges. Os portões do mosteiro foram trancados a chave para que os amigos laicos não pudessem entrar nos Dias de Consciência Plena. Cânticos da tradição da Terra Pura ficaram tocando em caixas de som o dia inteiro, mesmo quando os jovens monásticos praticavam meditação sentada. Policiais vinham procurar e interrogar monges e monjas a qualquer hora do dia e noite. Alguns monges e monjas foram perseguidos com objetos mortais. Eletricidade, água e linhas telefônicas foram cortadas e a entrega de alimentos vem sendo impedida... A mensagem é clara: o Venerável Abade não quer mais patrocinar os jovens monges e monjas da tradição de Plum Village no Prajña. Eles estão para voltar para casa ou ir para outros templos. No entanto, a implicação mais grave é que este é um esforço conjunto de certos líderes religiosos e políticos para banir do Vietnã a prática de consciência plena da tradição de Plum Village. Apesar das ameaças furiosas e graves violações dos direitos humanos e liberdade religiosa, quase 400 jovens monges e monjas continuam firmes no Prajña; somente cerca de dez deixaram o mosteiro durante estes dois últimos anos de turbulência, enquanto jovens continuam chegando pedindo para serem ordenados. Se você tivesse vindo aqui praticar conosco alguma vez, compreenderia que nós apenas praticamos a não-violência e compaixão; quando a tensão é insuportável, nossos jovens irmãos e irmãs praticam o Nobre Silêncio e jejum.
Há muito tempo, o Venerável Abade deixou o Prajña para ficar em um local discreto, mas os seus discípulos monásticos mais velhos permaneceram no Prajña para ajudar a conduzir estes incidentes. Nós estamos cientes de que o Venerável Abade também é apenas uma vítima. Não duvidamos que, inicialmente, ele tinha uma vontade sincera de proporcionar um centro de prática para os jovens no Vietnã. Como o Venerável Abade já partilhou publicamente muitas vezes, a visão pioneira de Thây sobre o Budismo Engajado e o seu trabalho social durante a Guerra do Vietnã inspirou o Abade desde quando ele era um noviço e o ajudou a persistir no caminho monástico mesmo durante os tempos de maiores provações. No entanto, durante os trinta e nove anos de prática no ocidente, a compreensão de Thây sobre o Budismo e a sua abordagem de serviço se aprofundou e mudou muito. Esta divergência de foco e ideal causou tensão e reação no Venerável Abade. Na medida em que o Mosteiro Prajña se tornou mais desenvolvido e bem respeitado, as sementes de ambição e inveja atiçaram mais descontentamento nele... Mas o Abade sozinho não teria sido capaz de planejar e manter todos estes contínuos atos destrutivos e odiosos. Com certeza, o Mosteiro Prajña não teria sido capaz de se manifestar e funcionar nestes quatro últimos anos se não fosse pela admiração profunda e apoio silencioso de certos líderes religiosos e políticos importantes no Vietnã. Ao mesmo tempo, sempre houve aqueles líderes que são radicalmente contra Thây. Toda vez que Thây estava no Vietnã, ele se reportava honestamente aos problemas reais que o país estava enfrentando. Ele se encontrou com o Primeiro Ministro anterior e atual Presidente do Vietnã e ofereceu propostas concretas ao governo, ao Partido Comunista, e a Igreja Budista Nacional do Vietnã, etc. Thây até mesmo aconselhou dizendo que o Vietnã deveria aprofundar o relacionamento dele com outros países e diminuir sua dependência da China... Alguns argumentam que Thây deveria ter ficado calado sobre estas questões, e talvez o Mosteiro Prajña tivesse sido deixado em paz. Thây tinha o poder, a posição e a coragem de falar e ser ouvido. Se Thây não fizesse quem poderia fazer e faria? A questão não é só Prajña. É o aprofundamento de nossa prática enquanto tradição espiritual e o fortalecimento de nossa soberania no espírito de irmandade; é nesse sentido que devemos todos trabalhar juntos.
As práticas de consciência plena da tradição de Plum Village têm provado que são aplicáveis e efetivas a todas as pessoas da atualidade. Desde que o Mosteiro Prajña surgiu, milhares de jovens e vietnamitas instruídos têm vindo tomar refúgio nele. Até mesmo os membros da Sanga de Hong Kong e Austrália fazem viagens anuais ao Prajña para praticar. Prajña é símbolo de nossa aspiração e esperança de um futuro melhor para o Vietnã. Deixem-nos ajudar uns aos outros a abrir mão de interesses pessoais, desentendimentos e ressentimentos. Deixem-nos assegurar os direitos humanos e liberdade religiosa para todas as pessoas, particularmente para estes jovens monges e monjas do Mosteiro Prajña. Se você está numa posição que pode ajudar, por favor, ajude. Se você pode contatar amigos, religiosos, políticos que podem ajudar, por favor, peça a eles para nos ajudar. A consciência coletiva e nossa voz internacional podem ajudar a proteger as vidas monásticas destes jovens rapazes e moças e assegurar um local livre de perigos para eles praticarem juntos. Nossa prática é “avançar como um rio”. Gotas de água evaporariam na metade do caminho, mas um rio consegue chegar ao oceano. Queremos ser capazes de viver e praticar juntos enquanto uma família espiritual. Queremos oferecer um local de refúgio para todos que buscam a paz. Neste momento, não podemos simplesmente encontrar outro local para nos mudar, visto que existem quase quatrocentos monges e monjas ao todo. Além do mais, é improvável que os monges e monjas seriam deixados em paz para praticar, mesmo que fossem transferidos. Portanto, nós confiamos nossa proteção aos nossos ancestrais espirituais e vocês.
A todos o nosso humilde pedido,
Ass: Irmãos e Irmãs monásticos do Mosteiro Prajña
[Uma forma de ajudá-los é assinando a petição que está sendo organizada por membros da Order of Interbeing dos EEUU. Basta entrar no site http://helpbatnha.org/2009/07/petition-letter-to-the-vietnamese-consulate/ e assinar o seu nome – você não precisa ser afiliado a esta tradição para se solidarizar com os irmãos e irmãs da tradição de Thich Nhat Hanh no Vietnã.]
Para ler a carta de petição em português que será enviada ao Consulado Vietnamita acesse o site da Sangha Plena Consciência de São Paulo: http://sanghaplenaconscienciasp.blogspot.com